Numa altura em que o FC Porto precisa de uma voz de comando, tentamos perceber qual o “peso” da braçadeira de capitão num tempo em que esta parece estar um pouco banalizada.
A verdade é que o simbolismo do capitão de equipa e a tudo aquilo a que estava associado se perdeu um pouco no futebol moderno. A palavra capitão já deixou de ter o peso que tinha nos tempos passados (mas não muito longínquos) do futebol. Pelo menos em alguns clubes por cá...
Não é capitão quem quer… só é capitão quem pode ! (Ainda será assim?)
Mas afinal quais as características que deve ter um bom capitão?
A meu ver, este jogador deverá ter a capacidade de conhecer bem os seus colegas, de forma a conseguir mobiliza-los, para que canalizem para ele toda a informação sobre o dia-a-dia de trabalho no clube. Só estando atento e possuindo esta informação, conseguirá intervir junto do grupo, promovendo um aumento da coesão do mesmo, no sentido de todos os elementos realizarem um trabalho, rumo aos objectivos definidos para a equipa. Em todos os momentos este jogador será o máximo representante dos jogadores, a “voz” da equipa. Em situações de maior envolvimento emocional, o capitão deverá ser capaz de se auto-controlar, realizando uma análise correcta da situação e intervir junto dos seus colegas, condicionando-os no sentido de defender a integridade de todos os elementos da equipa, a missão do clube e tornando assim, a equipa cada vez mais próxima dos objectivos a atingir.
Para além das situações anteriormente referidas, é fundamental que exista uma cumplicidade entre este jogador e o treinador. Só através de uma relação cúmplice, o capitão consegue perceber correctamente as ideias da equipa técnica e transmiti-las aos seus colegas, mesmo durante o próprio jogo. Para que esta estreita ponte entre treinador e capitão de equipa seja possível, é também necessário o reconhecimento de competências por parte de todo grupo, em relação ao capitão. Terá de ser evidente a sua capacidade de liderança e a identificação desta liderança, por parte de todos os elementos do plantel. Para além de levar para dentro de campo a mensagem do treinador, é necessário que apresente à equipa técnica toda a informação que considere pertinente, acerca do sentimento do grupo em geral e de cada jogador, para que os treinadores possam preparar estratégias mais adequadas aos objectivos a alcançar. Os factores anteriormente enunciados evidenciam, claramente, ( e para resumir tudo numa frase) que o papel do capitão é mais de responsabilidade do que de privilégio.
Os capitães deste século no FC Porto
Se olharmos ao passado recente dos capitães de equipa do nosso clube e depois de enumerar estas características, vem-me logo à partida dois nomes à cabeça: Jorge Costa e Pedro Emanuel. Foram talvez os últimos capitães à moda antiga no FC Porto, por assim dizer.
Jorge Costa era um líder nato para além de ser um “produto da casa”, fez a sua carreira praticamente toda ao serviço do Porto e era respeitado por todos. Foi sem duvida um dos maiores capitães da história deste clube. Merecia ter terminado a sua carreira ao serviço do Porto, mas às vezes a história é ingrata.Com a chegada de Co Adriaanse ao FC Porto, em 2005 e com o treinador holandês a deixar claro que não o considerava opção para a defesa, Jorge Costa, viu-se pela segunda vez, obrigado a prosseguir a sua carreira no estrangeiro ( terminou a sua carreira profissional em 2006 ao serviço do Standard de Liége) . Já o tinha feito antes na sua primeira aventura fora do país após ter sido votado ao ostracismo pelo técnico Octávio Machado assinando pelo Charlton Athletic em 2002, depois de 10 anos e 184 jogos ao serviço dos azuis e brancos. Felizmente regressou na época seguinte, já com José Mourinho no comando do FC Porto para os tempos mais recentes de glória, tendo feito parte da equipa que venceu a Taça UEFA em 2003 e a Liga dos Campeões e a Taça intercontinental em 2004.
E por falar em Taça Intercontinental quem não se lembra do penalti de Pedro Emanuel que nos deu a vitória nesse jogo carismático frente ao Once Caldas da Colômbia ? Depois de sete anos ao serviço do clube, também o Pedro foi um dos grandes lideres de balneário e uma voz de comando dentro e fora das quatros linhas.
Num passado mais recente, outro grande capitão. Participou em 84 por cento dos jogos do FC Porto desde que chegou ao clube. Contribuiu com 55 golos em 155 partidas. Capitaneou a equipa de forma irrepreensível. Foi um exemplo dentro e fora do campo. Revelou-se decisivo tantas vezes, (como num jogo da Liga dos Campeões em que resolveu o jogo de Kiev no último minuto, e ofereceu a passagem à fase seguinte da Champions ). Deu um toque de classe sempre que a equipa precisou. E não conheceu outro lugar na classificação que não fosse o primeiro. Estou a falar, como já se percebeu, de El Comandante, Lucho González .
Falta apenas falar de Bruno Alves antes de chegarmos aos dias de hoje. No FC Porto de 2001 até 2010 ( com três empréstimos de 2002 até 2005 a Farense, Guimarães e AEK Atenas respectivamente ) Bruno Alves foi apenas o capitão principal da equipa na época 2009/2010, precisamente depois de saída de Lucho. Ganhou protagonismo como patrão da defesa com a chegada de Jesualdo Ferreira quando ganhou o lugar no onze ao lado de Pepe superando Ricardo Costa e João Paulo na luta pela titularidade. Quando todos disseram que o seu bom desempenho estava relacionado com a presença de Pepe a seu lado, Bruno provou o contrário em 2005, afirmando-se então como uma das peças base do FC Porto, mérito esse reconhecido por Scolari (Treinador da Selecção Portuguesa nessa altura) com a chamada à Selecção Nacional, onde hoje é titular indiscutível ao lado precisamente de Pepe. Quando partiu para o Zenit, no verão de 2010, disse que levava o Porto no coração e agradeceu aos adeptos o apoio que sempre recebeu. Vai regressar dia 6 de Dezembro ao Dragão para o encontro que deve ser decisivo nesta edição 2011/2012 da Champions para os dois clubes. Será aplaudido no “regresso a casa” mas esperamos que não seja feliz durante os 90 minutos do jogo. Também ele um grande capitão deste clube.
Capitão, Capital e… Confusão !
Exemplos da banalização do estatuto de capitão em diversas equipas não faltam por cá e também lá por fora. Se olharmos a nível interno são vários os “casos” no que diz respeito ao estatuto de capitão de equipa. No Benfica, por exemplo, desde o escorraçar do capitão Nuno Gomes do clube por Jorge Jesus sendo este uma figura incontornável do clube acabando nas novelas de verão do agora capitão Luisão , onde desde há uns anos para cá, no fnal de cada época implora para sair do clube e o final tem sido sempre o mesmo: o “choradinho do brasileiro” que acaba sempre por ficar e depois a renovação de contrato com melhoria salarial. E no ultimo defeso chegou mesmo a dizer que “aquilo que uso no braço é indiferente para mim… Isso de capitão quem tem de avaliar são vocês”. No Sporting desde a saída do capitão Moutinho, que foi apelidado pela anterior direção de “maça podre” até à nomeação de João Pereira como capitão de equipa está tudo dito quanto à vulgarização que alguns clubes dão a este símbolo que é o capitão de equipa. Também lá por fora há casos semelhantes. O caso de Fabregas ( capitão e um dos símbolos do Arsenal ) que não descansou enquanto não se viu no Barcelona, é exemplo disso mesmo. Ou se quisermos a nível de Seleção os casos de Ronaldo e Messi que são os atuais capitães de Portugal e Argentina respetivamente, não teem em conta o seu peso no balneário e na equipa mas só e apenas o seu estatuto no futebol mundial. Isso basta para ser capitão hoje em dia.
Há países porém onde a tradição ainda conta. A ponto de levantar uma polémica capaz de mover todo o país. Inglaterra é, por excelência, o país tradicionalista por excelência. E aqueles que inventaram o jogo continuam a defender as mesmas regras de boa conduta dos primeiros dias. Para os ingleses a braçadeira de capitão ainda é sagrada, como se viu no recente caso de John Terry, onde o jogador perdeu a braçadeira de capitão da selecção Inglesa depois dos vários escândalos extra-conjugais.
Os capitães da atualidade
Chegados aos dias de hoje, vemos Helton como capitão dos azuis e brancos. Chegou em 2005 e viu-se obrigado a discutir pelo estatuto de número 1 na baliza do clube com Vítor Baía, sendo desde a época de 2006, o guarda-redes titular. Depois das saídas de Bruno e Alves e Raul Meireles, foi a escolha natural para envergar uma braçadeira que nunca foi utilizada de forma banal neste clube. Capitão desde 2010, Helton sabe bem quais as suas responsabilidades enquanto líder da equipa e deixou isso claro, por exemplo, no final do último jogo do Porto frente ao APOEL : “Temos de analisar e ver o que podemos corrigir para, da próxima vez, conseguirmos o nosso objectivo, que é vencer…. É ao treinador que compete, agora, ver como deve fazer isso durante os trabalhos da semana… Temos de jogar com mais alegria. ”, foram estas as palavras de alguém que está habituado a vencer e que vê que algo não vai bem no reino do Dragão.
Rolando, Hulk e Moutinho compõem o restante painel de capitães da época 2011/2012. O defesa central é um dos mais antigos jogadores no atual plantel e é um dos mais influentes jogadores da equipa. Apesar de não estar ao seu melhor nível é um jogador de qualidade e, acredito, que seja um dos primeiros a ajudar o Porto novamente a encontrar o rumo das vitórias. Quem também não esta ao seu melhor nível e que admitiu precisamente isso, é João Moutinho que, apesar de só estar à uma época no Porto, aparece como um dos sub-capitães da equipa. Para isso muito contribuiu a sua performance na época passada, onde era um dos indiscutíveis de Villas-Boas. Vê-se agora recompensado pela boa forma apresentada no ano anterior com a distinção de um Dragão de Ouro - atleta do ano pelo clube. Esperamos todos rapidamente por esse Moutinho do ano passado que ainda não se viu este ano. Envergou pela primeira e única vez até ao momento, a braçadeira de capitão no jogo de pré-epoca (não-oficial, portanto) frente ao Rio Ave, onde vencemos por três bolas a uma e Moutinho marcou de canto direto.
The last but not least surge aquela que é a jóia da coroa portista : O incrível Hulk. Descoberto pelos azuis e brancos no Tokyo Verdy do Japão, Hulk rapidamente se afirmou como um jogador de qualidade acima da média e actualmente é um jogador pretendido por meio mundo e por todos os tubarões europeus. Contudo a sua cláusula de rescisão milionária faz com que esse entusiasmo dos “senhores do dinheiro “ esfrie um pouco. O Incrível já fez saber que esta feliz no clube e que o seu pensamento está exclusivamente no FC Porto. A 17 de Outubro de 2010 estreou-se com a braçadeira de capitão, no jogo da Taça de Portugal com o Limianos. A 24 de Outubro deste ano, recebe o 2º Dragão de Ouro - Atleta do Ano.
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